Qual a relação de diabetes com obesidade?

Índice

O que é diabetes mellitus?

O diabetes mellitus (DM) não é uma única doença e sim um grupo heterogêneo de distúrbios metabólicos que apresentam em comum a hiperglicemia, resultante de defeito na ação e/ou secreção de insulina. O diabetes mellitus tipo 1 (DM1) é resultante da destruição autoimune das células produtoras de insulina, na maioria dos casos. O diagnóstico desse tipo de diabetes acontece, em geral, durante a infância e a adolescência, mas pode também ocorrer em outras faixas etárias, inclusive em idosos. Já no diabetes mellitus tipo 2 (DM2), o pâncreas produz insulina, mas há incapacidade de absorção das células musculares e adiposas.

O tipo mais frequente é o diabetes mellitus tipo 2 (DM2), sendo responsável por mais de 90% dos casos e na sua maioria das vezes, pode ser prevenido, ou pelo menos adiado, se a pessoa tiver bons hábitos de vida. Ele se manifesta mais frequentemente em adultos, mas crianças também podem apresentar. Dependendo da gravidade, ele pode ser controlado com atividade física e planejamento alimentar, mas na maioria dos casos exige o uso de medicamentos para controlar a glicemia.

O que é pré-diabetes e o que fazer para evitar que progrida para diabetes?

O termo pré-diabetes não é propriamente um diagnóstico, mas sim um estado de risco aumentado para o aparecimento de diabetes mellitus tipo 2. Está comprovado que mudanças no estilo de vida podem diminuir o risco do estado de pré-diabetes evoluir para diabetes. O Programa de Prevenção do Diabetes (Diabetes Prevention Program – DPP) e o Estudo Finlandês de Prevenção do Diabetes, por exemplo, mostraram reduções significativas de progressão de pré-diabetes para diabetes em indivíduos que praticavam atividade física regular. No DPP, os indivíduos que praticavam 150 minutos por semana de atividade física e, além disso, perderam em média 7% do peso, reduziram em 58% o risco de seu pré-diabetes progredir para diabetes.

Qual a relação entre sobrepeso e obesidade com diabetes?

A prevalência de diabetes mellitus aumentou no mundo inteiro nos últimos anos. O mais prevalente é o diabetes mellitus tipo 2 (DM2), sendo que em quase 90% dos casos existe a correlação com obesidade ou sobrepeso. A obesidade é caracterizada pelo excesso de gordura corporal. Por sua vez, o diabetes mellitus caracteriza-se pela hiperglicemia, ou seja, elevação da glicose (“açúcar”) no sangue. O DM2 ocorre, com maior frequência, a partir dos 40 anos, em pessoas com excesso de peso, sedentárias, com hábitos alimentares ricos em gorduras e açúcares e com história familiar da doença. Obesidade e DM2 estão diretamente relacionados, uma vez que o sobrepeso ou a obesidade podem aumentar a sobrecarga do pâncreas, que pode causar danos ao organismo a longo prazo.

Por que a obesidade é fator de risco?

O aumento do peso corporal pode levar à resistência à insulina. O pâncreas trabalha muito mais para produzir esse hormônio anabólico. No entanto, o funcionamento desse hormônio no receptor celular pode ficar prejudicado. Na prática, o que acontece em um organismo com sobrepeso/obesidade é o seguinte: em vez de uma molécula de insulina introduzir uma molécula de glicose na célula, é preciso aumentar a produção desse hormônio para inserir a mesma quantidade de glicose na célula, aumentando o “trabalho” do pâncreas, o que pode gerar uma sobrecarga nesse órgão. Dessa forma, o corpo tem dificuldade de usar a glicose para produzir energia e fica com esse excedente, que é armazenado em forma de gordura. E isso vira um círculo vicioso, já que o aumento do peso leva à resistência insulínica e consequentemente, pode ocasionar o diabetes mellitus tipo 2.

Como a obesidade causa resistência à insulina?

Para compreendermos o que é resistência à insulina, precisamos saber que a insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas e que tem a finalidade de transportar a glicose, que está no sangue, para o interior das células. Na célula a glicose é usada como fonte de energia principal para o funcionamento adequado de todo o nosso organismo. A resistência à insulina é uma condição em que acontece uma dificuldade para que a insulina exerça o seu papel biológico, ou seja, é um desequilíbrio entre a quantidade de insulina produzida pelo pâncreas e o seu funcionamento no receptor celular. Quando a pessoa não tem resistência hormonal, ocorre assim: uma molécula de insulina tem a capacidade de colocar uma molécula de glicose dentro da célula, porém, na pessoa com resistência, o pâncreas até trabalha mais que o necessário, mas o defeito está no receptor, onde a insulina age para diminuir a glicose no sangue.

Então, o corpo fica com mais dificuldade de produzir energia pelo açúcar. Dessa maneira, existe a necessidade de armazenar este açúcar que não conseguiu ainda gerar energia e isso ocorre na forma de gordura. Sendo assim, o ganho de peso é uma característica da resistência à insulina. Através do ganho de peso, o pâncreas produz mais insulina. Mais insulina produzida, mais as células tendem a se proteger desse excesso, consequentemente, mais aumenta a resistência insulínica. Se formos falar a longo prazo, com esta “força” do pâncreas para produzir mais hormônio, acaba que um dia ele pode falhar e, assim, não consegue produzir mais insulina, portanto, os níveis de açúcar no sangue começam a ficar altos, surgindo assim o diabetes mellitus tipo 2. Genética, sedentarismo e obesidade acentuam essa resistência à insulina.

Por que a obesidade aumenta a pressão arterial?

A obesidade e a hipertensão arterial são patologias que estão profundamente ligadas. Elas possuem fatores de risco em comum, como o sedentarismo e o consumo de alimentos hipercalóricos. Além disso, a própria obesidade é um fator de risco para a hipertensão arterial. As próprias modificações hormonais causadas pela obesidade, como aumento da insulina e a maior retenção de sódio pelos rins podem levar ao aumento da pressão arterial e, consequentemente, à hipertensão arterial. A obesidade é diagnosticada através do cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), determinado através da divisão do peso (em kg) dividido pelo quadrado da altura (em metros). Valores acima de 30 kg/m² já são considerados obesidade grau I. No entanto, a obesidade também pode ser melhor avaliada com o auxílio de outras formas de diagnóstico, como as medidas de circunferência abdominal e através do exames de bioimpedância ou densitometria, por exemplo. Em relação à hipertensão arterial, valores de circunferência abdominal acima de 80 cm para mulheres e 94 cm para homens são fatores de risco para o seu aparecimento.

O que é diabesidade?

É a junção de diabetes com obesidade, já que são doenças intimamente relacionadas. No diabetes mellitus tipo 2 há uma resistência à ação da insulina, o pâncreas até trabalha mais que o necessário, porém o defeito está no receptor, o que dificulta e entrada da glicose na célula e ocasiona o seu aumento no sangue – a famosa hiperglicemia – e devemos nos lembrar de que a glicose é o substrato fundamental para o nosso metabolismo celular, a fim de permitir o adequado funcionamento do nosso organismo .

Portanto, é fundamental que exista uma ação muito bem estruturada de incentivo à mudança de estilo de vida a fim de evitar essas comorbidades que possuem uma relação muito bem estabelecida e que já temos bem consolidado o impacto que mudanças comportamentais podem ter na prevenção, tratamento e até reversão dessas situações de saúde. O principal pilar de abordagem tanto da obesidade quando do diabetes mellitus tipo 2 é o estilo de vida saudável, em especial dieta adequada, prática de exercício físico regular, gerenciamento do estresse, qualidade de sono e atenção aos relacionamentos, sendo que o profissional de saúde deve sempre reforçar e proporcionar ferramentas para auxiliar o paciente nesse processo de mudança. Além disso, hoje temos medicamentos que agem simultaneamente nas duas doenças, melhorando essa resistência à insulina, controlando o apetite, a saciedade, a taxa metabólica, e por consequência, melhorando o controle do diabetes e o excesso de peso simultaneamente e que podem ser importantes adjuvantes no tratamento dessas doenças, sempre junto à abordagem prioritária que deve ser a mudança de estilo de vida.

E o que pode ser feito para evitar a obesidade?

Sabemos que existe uma importante pré-disposição genética para o surgimento da obesidade, mas através de mudanças de hábitos de vida podemos evitá-la ou tratá-la. Alimentação equilibrada, a prática de exercício físico regular, qualidade do sono, manejo do estresse e até mesmo atenção aos relacionamentos interpessoais são fundamentais quando falamos de prevenção de obesidade, diabetes mellitus e de outras doenças crônicas não-transmissíveis.

Além disso, vem sendo muito utilizada a terapia cognitiva comportamental, quando trabalhamos o entendimento dos nossos sentimentos, das nossas emoções, ou seja, o comportamento que as emoções geram frente à alimentação saudável e atividade física. Essa terapia pode ter um impacto muito importante tanto no diabetes mellitus como na abordagem da obesidade. Cada vez mais, devemos trabalhar em equipe, unir a experiência e os esforços do médico, nutricionista, psicólogo, educador físico, enfermeiro para proporcionar ao paciente uma abordagem mais ampla. Estudos inclusive demonstram que pessoas que perdem peso podem, inclusive, ter remissão do diabetes mellitus tipo 2. Outros estudos já apontam que o estilo de vida saudável pode prevenir diabetes mellitus e obesidade e, se não é mais possível prevenir, podemos evitar as complicações que essas doenças trazem, que podem ser inúmeras.

Além disso, precisamos combater a inércia terapêutica. É preciso encarar a obesidade como doença, que inclusive muitas vezes precisará de tratamento medicamentoso. Ainda existe um preconceito entre a população em geral e até mesmo entre os médicos e demais profissionais de saúde em relação ao tratamento medicamentoso da obesidade. Quando se fala de outras doenças crônicas, como diabetes mellitus, hipertensão arterial ou dislipidemia, por exemplo, existe consenso absoluto que a medicação pode ajudar no controle dessas doenças, evitando complicações tanto a curto quanto a longo prazo, mas quando a abordagem é em relação à obesidade, não é incomum ouvirmos frases do tipo: “Mas é só você ter força de vontade” ou “mas é só você comer menos” – e sabemos que não é simples assim, já que a obesidade é um processo patológico crônico, recorrente e progressiva, sendo uma doença complexa, poligênica e multifatorial. Estudos comprovam que quando maior o índice de massa corporal (IMC) menor é a expectativa de vida da pessoa. Então além da abordagem ser focada na mudança de estilo de vida, utilizando muitas ferramentas, inclusive de ciência do comportamento, quando bem utilizado e individualizado, o tratamento medicamentoso pode ser muito benéfico – ele não cura, mas pode controlar de forma bastante efetiva a doença e diminuir as comorbidades associadas. Sabemos que perdas de 5 a 10% do peso corporal já são capazes de melhorar muitas comorbidades.

Qual relação da insulina e gordura?

As ações da insulina alteram o equilíbrio do tecido adiposo no sentido de acúmulo de gordura, além de outros efeitos relacionados à “síndrome metabólica” (colesterol, triglicerídeos, hipertensão, diabetes mellitus, obesidade, etc).

Como a insulina pode interferir no processo de emagrecimento?

Quando existe a resistência à insulina o mecanismo de transporte da glicose não funciona bem e o pâncreas produz insulina em excesso para tentar fazer com que as células absorvam a glicose, mas as células já não a aceitam mais de maneira tão eficiente. O seu corpo se torna ineficiente na função de transformar os alimentos em energia para alimentar as células. Quando o corpo se torna resistente à insulina, esta precisa dar outro destino a essa glicose. E é nesse ponto que a insulina interfere no processo de emagrecimento.

Quando existe o excedente de glicose no sangue, o nosso corpo em geral não a deixará “solta” para que você não fique diabético. Então nosso corpo armazenará esse excesso de glicose como gordura. Essa glicose será transformada em glicogênio (reservas saudáveis de glicose nos músculos e fígado) ou será transformada em gordura para ser utilizada futuramente. É mais saudável o corpo transformar essa glicose como gordura do que a deixar no sangue, por mais que engordar também traga diversos prejuízos pra saúde. E para quem está em processo de emagrecimento tudo o que se deve evitar é a produção de mais gordura, deve-se focar exatamente na queima dessa gordura já armazenada e não numa maior produção. A resistência à insulina está quase sempre associada ao ganho de peso e a dificuldade em emagrecer. Uma pessoa que coma pouco em quantidade, mas sem qualidade, pode ter resistência insulínica e mesmo comendo pouco não emagrece ou perde peso muito lentamente.

Como saber se a pessoa tem resistência à insulina?

Na maioria das vezes é uma condição silenciosa, sendo que raramente apresenta sintomas, no entanto, quando o desequilíbrio é muito intenso, podem surgir manchas marrons na pele, geralmente na região do pescoço, braço e/ou axilas, que são chamadas Acantose Nigricans. Nos casos em que a resistência insulínica está associada à Síndrome dos Ovários Policísticos, podem ocorrer também as seguintes alterações:

  • Hirsutismo, que é o aumento da quantidade de pelos no corpo da mulher em locais comuns ao homem;
  • Acne;
  • Oleosidade na pele;
  • Irregularidade no ciclo menstrual.

 

O diagnóstico da resistência insulínica é feito de acordo com a avaliação clínica do paciente, não existindo um teste específico para a condição. Exames de sangue são solicitados de acordo com o perfil de cada paciente e suas comorbidades. Dentre os exames laboratoriais utilizados no apoio à investigação clínica estão:

  • Glicemia de jejum;
  • Hemoglobina glicada (HbA1c);
  • Perfil lipídico;
  • Nível de insulina em jejum (para o cálculo do HOMA-IR);
  • Teste oral de tolerância à glicose.

 

Qual hormônio pancreático poderia influenciar o processo da obesidade? A insulina, hormônio produzido pelas células β pancreática e que é o principal hormônio envolvido na regulação da lipogênese, ou seja, formação de gordura.

Texto escrito e revisado por:

Dra. Jacy Maria Alves

Endocrinologia | CRM 27085 | RQE 17834 e RQE 17665

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