O que é menopausa?
Menopausa é um evento inexorável na vida de toda mulher. É caracterizada pela parada permanente das menstruações secundárias à falência folicular ovariana e é considerado que a mulher está na menopausa quando está há pelo menos 12 meses sem menstruar. Pode ser espontânea (ou fisiológica), em geral ocorrendo ao redor de 50 anos, ou precoce, quando ocorre antes dos 40 anos. Cerca de 2% das mulheres podem apresentar a falência ovariana após os 55 anos de idade, configurando menopausa tardia.
Quais são os primeiros sinais de menopausa?
O período que chamamos de perimenopausa, ou seja, o período entre a fase reprodutiva e a não reprodutiva da mulher, pode ter uma duração variável, em geral entre 4 e 10 anos. Esse período, também chamado de climatério, é caracterizado inicialmente por irregularidade menstrual até a incidência de amenorreia, que é a parada da menstruação por pelo menos 60 dias. Os primeiros sinais de menopausa são essa irregularidade menstrual, ondas de calor e suores noturnos (que podem aparecer na fase em que a menstruação fica desregulada e melhorar quando ela desce), alterações no sono (relacionado a queda de progesterona nessa fase inicial ou reflexo dos suores noturnos), irritabilidade e alteração de humor, pois a queda de estrogênio é responsável por reduzir a serotonina, que é o neurotransmissor relacionado ao bem estar.
Quais os principais sintomas da menopausa?
Os sintomas da menopausa se devem principalmente pela privação do estrogênio e podem impactar em vários aspectos da saúde e qualidade de vida, determinando sintomas vasomotores (os famosos fogachos ou ondar de calor), síndrome geniturinária da menopausa (como ressecamento vaginal, ardência vaginal, disfunções sexuais e sintomas urinários como disúria, noctúria, urgência, infecções de repetição), disfunção cognitiva, distúrbios do sono e alterações no metabolismo ósseo.
Como se caracterizam os fogachos?
Fogachos (que são os sintomas vasomotores da menopausa) são episódios repentinos de intenso calor que geralmente se iniciam pela face ou tórax e se espalham pelo corpo, acompanhados de sudorese, com duração de 1 a 5 minutos. Persistem como a PRINCIPAL indicação para a terapia hormonal da menopausa e, na ausência de contraindicações, é o tratamento mais eficaz para tais sintomas. Apresenta uma prevalência de 60% a 80% na perimenopausa, podendo persistir por décadas em até 20% dessas mulheres.
O que a menopausa pode causar?
Além de poder interferir de maneira significativa na capacidade produtiva da mulher e na qualidade de vida como um todo, a menopausa constitui fator de risco para a doença arterial coronariana em mulheres devido aos seus potenciais efeitos relacionados ao hipoestrogenismo sobre a função cardíaca, pressão arterial e alguns parâmetros metabólicos, como tolerância à glicose e perfil lipídico, refletindo em aceleração do processo aterosclerótico. O risco de AVC duplica na primeira década após a menopausa e supera o de homens mais velhos, com propensão a um prognóstico mais grave em mulheres. A menopausa precoce e a insuficiência ovariana primária também estão associadas ao aumento da aterogênese precoce e da mortalidade geral. Estudos observacionais mais recentes e reanálise dos mais antigos sugerem que para mulheres saudáveis em menopausa recente, os benefícios da terapia hormonal superam seus riscos, com menos eventos cardiovasculares em jovens do que em mulheres mais velhas.
O que acontece se não tratar a menopausa?
A decisão de tratar ou não é muito individual e depende dos sinais e sintomas e da avaliação minuciosa dos potenciais riscos e benefícios pelo endocrinologista e também pelo ginecologista. Os riscos de não se tratar, quando se tem a devida indicação, é a piora da qualidade de vida, aumento do risco de ansiedade, depressão, aumento do risco cardiovascular, aumento do risco de osteoporose, maior predisposição a sintomas geniturinários, entre outros.
A terapia hormonal da menopausa aumenta o risco de câncer de mama?
O medo do câncer de mama é a principal razão para as mulheres não iniciarem ou interromperem a terapia hormonal da menopausa. Realmente existem algumas evidências de que o uso combinado de algumas formulações de estrogênio e
progesterona esteve associado a uma maior incidência de câncer de mama, mas não houve diferença de mortalidade pela mesma patologia. E vale ressaltar que inúmeras evidências demonstram que a exposição ao tratamento apenas com estrogênio não aumenta a incidência de câncer de mama, o que pode ser feito em mulheres que não têm útero. É muito importante deixar claro que o hormônio não causa câncer, mas pode estimular o seu crescimento em quem já tem essa tendência. Existem até evidências, em alguns estudos mais recentes, que o uso de estrogênio de forma isolada pode levar a uma redução do risco de desenvolver câncer de mama e que esse risco de desenvolver o câncer é mais influenciado pelo uso de progestágenos e também pela idade da mulher e duração da terapia hormonal da menopausa, sendo que o risco seria menor com o uso da progesterona natural ou da didrogesterona). O risco do desenvolvimento do câncer de
mama é complexo, multifatorial e está aumentado em mulheres com história familiar de câncer de mama, obesidade e maus hábitos de vida, como sedentarismo, tabagismo e consumo excessivo de bebida alcoólica, por exemplo.
Qual o melhor remédio para menopausa?
A terapia hormonal na menopausa (THM) continua sendo o tratamento mais eficaz para os sintomas vasomotores e para a síndrome geniturinária da menopausa, além de ter demonstrado prevenir perda óssea e fraturas, câncer colorretal, doença cardíaca coronariana, diabetes mellitus, bem como manter equilibrados os níveis de colesterol. Recomenda-se a reposição de estrogênio e progesterona para mulheres que possuem útero, sendo que essa reposição pode ser realizada por via oral ou transdérmica (preferencialmente) – adesivos combinados com estrogênio e progesterona ou gel de estrogênio com progesterona oral ou gel de estrogênio com DIU com levonorgestrel, por exemplo. A indicação primária da associação da progesterona ao estrogênio é evitar o câncer de endométrio, sendo que todas as mulheres com útero devem usar, exceto quando o uso do estrogênio for vaginal. Para mulheres sem útero a reposição de estrogênio pode ser feita de forma isolada (sem a necessidade de progesterona) – recomenda-se gel ou adesivo de estrogênio (preferencialmente) ou comprimidos contendo estrogênio. O objetivo é utilizar a menor dose efetiva individualmente ajustada. Em geral prefere-se a via transdérmica, pois a via oral pode aumentar o risco de tromboembolismo venoso se comparada à via transdérmica ou percutânea, por apresentar primeira passagem hepática e aumento de fatores de coagulação e proteínas hepáticas. Infelizmente apenas 10% a 15% das mulheres procuram ajuda médica por causa do medo do tratamento, mas sabemos que quando bem indicado a terapia hormonal da menopausa pode inclusive reduzir risco cardiovascular, além de obviamente melhorar a qualidade de vida da mulher. Os hormônios que prescrevemos
são considerados bioidênticos e usados há muito tempo, disponíveis em qualquer farmácia. Deve-se ter muito cuidado com fórmulas manipuladas, pois podem apresentar diferenças sensíveis quando à sua composição quando comparados a produtos comerciais aprovados. E vale lembrar que não existe atualmente nenhum chip ou implante hormonal seguro para ser usado na menopausa. Formulações de composição personalizadas com base nos níveis hormonais devem ser desencorajadas. É importante também lembrar que o uso de testosterona não tem papel na terapia hormonal da menopausa.
Como avaliamos a eficácia do tratamento hormonal da menopausa?
O melhor método para avaliar a eficácia do tratamento é a resposta clínica da mulher e a melhora dos sintomas climatéricos, dependendo da dose, durante os primeiros 2-3 meses.
Qual a idade de menopausa?
Em geral ocorre ao redor dos 50 anos. Quando ocorre antes dos 40 anos de idade, caracterizamos como menopausa precoce e quando ocorre após os 55 anos, configura-se a menopausa tardia.
Qual a idade certa para parar de menstruar?
Não existe idade certa, mas na maioria das mulheres a parada da menstruação por pelo menos 12 meses (menopausa) ocorre por volta dos 50 anos de idade (em geral entre 45 a 55 anos de idade).
Quais exames são feitos para saber se está na menopausa?
O teste laboratorial específico para a menopausa NÃO é recomendado, exceto em algumas situações, como por exemplo, na confirmação da falência ovariana primária. Em geral, um nível elevado de hormônio folículo-estimulante (FSH) será suficiente para a confirmação. Deve-se lembrar também que a dosagem sérica de estradiol durante a menopausa não é clinicamente útil. Após a menopausa, espera-se que os níveis de estradiol sejam consistentemente baixos (<20 pg/mL). Quando indicado, o tratamento hormonal da pós menopausa é baseado em sintomas, não em testes hormonais.
Qual o principal objetivo da terapia hormonal da menopausa?
Melhorar a qualidade de vida da mulher por meio do alívio ou eliminação dos sintomas da menopausa, os quais podem interferir muito nas atividades de vida diária, em casa e no trabalho. Os maiores impactos do tratamento se dão pela redução dos fogachos, melhora do sono, concentração, fadiga, função sexual e outros aspectos.
É normal engordar na menopausa?
Na realidade o que acontece é uma perda da massa muscular relacionada ao envelhecimento associada a aumento da gordura corporal e redistribuição – mais gordura abdominal. As mulheres têm tendência a ganhar gordura como o passar dos anos, independente ou não de usar hormônios.
Por que a barriga cresce na menopausa?
Isso se deve principalmente pelas mudanças hormonais, especialmente pela queda do estrogênio, que leva a mudanças da composição corporal na mulher. Principalmente com aumento da gordura visceral (abdominal) e leva também a perda de massa muscular. A reposição hormonal da menopausa, quando bem indicada, pode PREVENIR o aumento da gordura visceral, aumento do peso e da gordura corporal em geral.
O que é bom para a menopausa?
A menopausa é uma parte natural do ciclo de vida da mulher. Você não pode preveni-la, mas pode controlar os sintomas e até prevenir possíveis complicações. Ter hábitos saudáveis ao longo da vida é algo que ajuda muito a mulher passar por essa fase da melhor maneira possível. Uma das dicas importantes é a prática de exercício físico, sendo que o exercício de força (resistido, como a musculação) deve ser praticado ao menos 2 vezes na semana; alimentar-se de maneira saudável, contemplando frutas, verduras, legumes, boa ingesta de proteínas e evitando alimentos ultraprocessados e açúcares em geral; evitar o tabagismo e consumo excessivo de álcool (pois podem inclusive piorar os fogachos – ondas de calor); ingerir pelo menos 1000 mg de cálcio ao dia (leite e derivados são fontes bastante ricas de cálcio), pois é uma medida que pode ajudar a prevenir osteopenia e osteoporose; adequar níveis de vitamina D, sendo sugerido que os níveis estejam acima de 30 ng/ml; além disso, o gerenciamento do estresse e o cuidado da saúde mental é algo extremamente importante para que a mulher passe por essa fase da maneira mais tranquila possível.
Quais são os sintomas mais graves da menopausa?
A gravidade dos sintomas depende do quando interfere nas atividades diárias da vida da mulher e isso é muito variável. Por exemplo, para uma mulher, os sintomas vasomotores (fogachos) podem ser tão graves a ponto de interferir em atividades simples de vida, com por exemplo, cuidar da casa, trabalhar, pode interferir nos relacionamento sociais e isso pode gerar um desgaste emocional tão grande a ponto de desencadear até mesmo distúrbios psicológicos e ser uma fonte importante de estresse. Além disso, sabemos que a menopausa pode ser também um importante fator de risco para a doença arterial coronariana e aumento de risco de AVC.
É possível sentir prazer na menopausa?
Após a menopausa, sobretudo nos primeiros 5 anos, o grau de atividade sexual diminui progressivamente, independente de sintomas atróficos, uso de lubrificantes ou transtornos de humor. A terapia hormonal na pós-menopausa tem benefícios comprovados na função sexual, seja na terapia somente com estrogênio ou combinada, com melhoria significativa na função sexual, principalmente da dispareunia (dor genital persistente ou recorrente que surge pouco antes, durante ou após a relação sexual), sendo a atrofia vaginal o preditor mais forte da atividade sexual. Além de melhorar a lubrificação vaginal, o estrogênio transdérmico melhora o desejo, a excitação, o orgasmo e a satisfação sexual, sugerindo que o efeito desse tratamento nos aspectos psicológicos da resposta sexual é independente dos aspectos fisiológicos.
Quais as principais indicações da terapia hormonal da menopausa?
Sintomas vasomotores (fogachos), síndrome geniturinária da menopausa (ressecamento vaginal, dispareunia, disúria) e prevenção da perda óssea pós menopausa, sendo que a terapia hormonal da menopausa é a primeira linha de tratamento para mulheres menopausadas com alto risco de fratura e abaixo dos 60 anos de idade.
A terapia hormonal da menopausa é segura?
Novas recomendações esclarecem que a terapia hormonal da menopausa é segura para mulheres dentro de 10 anos da menopausa (janela de oportunidade) que estão sob baixo risco de doenças cardiovasculares e câncer de mama.
Quais as principais contraindicações absolutas à terapia hormonal sistêmica?
- Insuficiência hepática aguda ou grave;
- Tromboembolismo agudo;
- Tromboembolismo pulmonar prévio ou trombose idiopática;
- Porfiria cutânea tardia;
- Sangramento uterino de causa desconhecida;
- Deficiência das proteínas C e S e antitrombina;
- Câncer de ovário atual ou pregresso;
- Câncer de endométrio;
- História prévia de infarto do miocárdio e/ou acidente vascular cerebral (AVC);
- Câncer de mama atual ou pregresso.
Repor hormônios na menopausa pode engordar?
A maioria dos estudos mostra exatamente o contrário. Sugere-se que o uso de hormônios na menopausa está associado a menor ganho de gordura e potenciais efeitos benéficos na massa muscular.
Existe indicação de dosagem de testosterona na mulher?
Não está indicado realizar a dosagem laboratorial de testosterona com intuito de avaliar deficiência na mulher. Os métodos laboratoriais mais comumente utilizados são pouco confiáveis, não havendo uma faixa de referência, nem um ponto de corte bem definido para diagnóstico de deficiência na mulher.
Existe indicação de reposição de testosterona em mulher?
NÃO está indicado o uso de rotina de testosterona em mulheres na pós menopausa. Na mulher na pós menopausa, por exemplo, a testosterona está indicada quando existe o diagnóstico de Síndrome do desejo sexual hipoativo. Para o diagnóstico existem critérios bem estabelecidos e a dosagem de testosterona não faz parte do diagnóstico. Além disso, não existem formulações de testosterona disponíveis especificamente para mulheres, apenas para homens. O uso de testosterona em mulheres, sem indicação e de rotina e com doses inadequadas, pode levar a efeitos a curto e a longo prazo, dose-dependentes como acne, excesso de pelos, queda de cabelo, engrossamento da voz, aumento de clitóris, além de dependência psicológica como depressão após retirada e transtornos alimentares.
Por quanto tempo posso fazer a reposição hormonal?
Em 2012, a North American Menopause Society (NAMS) revisou seu posicionamento e concluiu que a análise de risco-benefício da reposição hormonal deve ser individual e que os benefícios podem superar os riscos quando iniciada nos primeiros anos de menopausa, na janela de oportunidade, e ser usada por 3 a 5 anos. Em 2015, NAMS divulgou um comunicado adicional dizendo que, para mulheres com mais de 65 anos, a terapia hormonal não deve ser descontinuada apenas com base na idade, mas deve ser individualizada, levando em consideração os sintomas e riscos de cada mulher. Ou seja, o tempo da reposição hormonal deve ser avaliado também de forma bastante individualizada.
Em mulheres com contraindicação à terapia hormonal haveria outra alternativa de tratamento medicamentoso?
Existem opções para mulheres sintomáticas e com contraindicação ou recusa à terapia hormonal da menopausa. Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), como a paroxetina, citalopram e escitalopram e os inibidores seletivos da receptação de serotonina e norepinefrina (ISRSN), como a venlafaxina, desvenlafaxina e duloxetina estão entre os fármacos mais recomendados. Além desses também existem os gabapentinoides, como a gabapentina e pregabalina, anti-hipertensivo como a clonidina além de acupuntura. Mudanças de hábitos de vida também podem contribuir muito para o controle de sintomas, como alimentação mais saudável, evitando alimentos ricos em cafeína e bebidas alcoólicas, além do uso com moderação de pimenta, canela e gengibre. O exercício físico regular também é um grande aliado no controle dos sintomas da menopausa.