A Medicina do Estilo de Vida fortalece sua presença no cenário brasileiro

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Abordagem médica que considera a saúde uma condição diretamente relacionada aos hábitos de vida.

A Medicina do Estilo de Vida tem emergido como um movimento vigoroso e em ascensão no país. Atualmente, estamos testemunhando a evolução de um paradigma de saúde que transcende a mera ausência de doenças. Os alicerces de uma existência saudável abrangem uma riqueza de dimensões, englobando desde a felicidade e o bem-estar emocional até a vitalidade física, o propósito de vida, os traços de caráter e virtudes, as conexões sociais enriquecedoras, bem como a estabilidade material e financeira, entre outros elementos cruciais.

As doenças crônicas decorrentes do estilo de vida são os principais fatores contribuintes para morbimortalidade no mundo, contribuindo de forma substancial para uma crise de saúde global e nas despesas de saúde. Mais de 80% das doenças cardiovasculares, como AVC e infarto, diabetes tipo 2 e obesidade poderiam ser prevenidas com a adoção de práticas de vida mais saudáveis. Os dados são da Organização Mundial de Saúde (OMS). Sabe-se ainda que 40% das mortes prematuras são atribuídas ao tabagismo (18,1%), má alimentação e atividade física (16,6%) e consumo de álcool (2,5%).

O que é a Medicina do Estilo de Vida?

Nesse cenário, surge a Medicina do Estilo de Vida (MEV), uma abordagem terapêutica que implementa intervenções fundamentadas em evidências nos comportamentos interligados à saúde e nos hábitos que moldam nosso modo de vida. Seu propósito é a prevenção, tratamento e até mesmo a remissão de doenças crônicas. A MEV une princípios médicos, psicológicos, motivacionais e ambientais no contexto clínico, integrando a ciência comportamental, estudos sobre mudança de hábitos e vasta literatura sobre a relação entre estilo de vida e bem-estar. 

A Medicina do Estilo de Vida representa uma vanguarda médica que prioriza a utilização de intervenções terapêuticas voltadas para o estilo de vida como sua pedra angular no tratamento de condições crônicas. Essa abordagem inovadora se destina especialmente a afecções como doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e obesidade, embora transcenda a esfera das intervenções de estilo de vida ao abraçar de maneira criteriosa a administração de fármacos e a recomendação de procedimentos, sempre embasados em evidências sólidas. É essencial reconhecer que a Medicina do Estilo de Vida, idealmente, constitui o alicerce sobre o qual repousa a Medicina Convencional (Alopática). Central para essa perspectiva é o comprometimento ativo do paciente, juntamente com seu médico, para alcançar resultados ótimos e assumir responsabilidade conjunta por seu progresso.

Importante destacar que diretrizes médicas frequentemente recomendam tratamentos baseados em estilo de vida como primeira linha de abordagem para a maioria das doenças crônicas. Um aspecto central da MEV é promover uma relação horizontalizada entre profissionais de saúde e pacientes, capacitando estes últimos para a autogestão da saúde, com o auxílio e conhecimento dos primeiros. Dessa forma, a MEV busca capacitar cada indivíduo a assumir um papel ativo em seu autocuidado, visando uma melhoria substancial na qualidade de vida e um controle mais efetivo das doenças crônicas.

Como funciona a Educação em Saúde na Medicina do Estilo de Vida?

A pedra angular desta abordagem reside na Educação em Saúde, uma âncora que pode potencialmente revolucionar o panorama da saúde, exercendo influência sobre a epidemiologia e os custos no setor. Por meio dela, vislumbramos não apenas uma maior adesão à adoção de novos estilos de vida, mas também uma amplificação da aderência aos protocolos terapêuticos. A percepção de que nosso modo de vida pode instigar o surgimento de diversas enfermidades não é recente. Remontando à era de Hipócrates (460 a.C. – 370 a.C.), ecoa a máxima: “Que seu alimento seja seu remédio, e que seu remédio seja seu alimento”. A cada avanço científico, solidifica-se ainda mais a íntima relação entre nosso estilo de vida e as enfermidades crônicas não transmissíveis, também conhecidas como doenças relacionadas ao modo de vida. O espectro dessas doenças engloba condições cardiovasculares, diabetes tipo 2, obesidade, enfermidades respiratórias crônicas, assim como variados tipos de neoplasias.

À medida que o tempo avançou, paralelamente ao progresso tecnológico e à expansão da indústria farmacêutica, aflorou a valorização dos hábitos saudáveis na prevenção, tratamento e até mesmo reversão de enfermidades. Nesse panorama de busca por uma abordagem mais holística, diferenciada e sustentável da saúde, emergiu em 2004 a Medicina do Estilo de Vida, sob a égide do Dr. John Kelly, MD, MPH, da Universidade de Loma Linda, coadjuvado por um seleto grupo de médicos visionários. Emoldurando essa concepção estão o autocuidado e o autogerenciamento, componentes basilares da Medicina do Estilo de Vida. Concomitantemente, no mesmo ano, veio à luz o American College of Lifestyle Medicine (ACLM), pioneira sociedade dedicada a esta disciplina, atualmente congregando uma comunidade com milhares de membros. Em território brasileiro, o Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida (CBMEV) floresceu em 2018, impulsionando a promoção e o desenvolvimento oficial da Medicina do Estilo de Vida, com o objetivo de prevenir, tratar e reverter enfermidades crônicas não transmissíveis. No mesmo ano de 2018 também nasce a Escola Brasileira de Medicina do Estilo de Vida, a MEVBrasil, que é uma escola de formação em Medicina do Estilo de Vida, cujo objetivo é ajudar na capacitação dos profissionais de saúde e no treinamento de habilidades para colocar em prática a abordagem da Medicina do Estilo de Vida.

Como é a abordagem da Medicina do Estilo de Vida?

A abordagem da Medicina do Estilo de Vida representa uma promessa tangível de revolucionar os sistemas de saúde em todo o mundo. Esta abordagem inovadora transcende as fronteiras nacionais e se manifesta como uma autêntica Revolução na Saúde, redefinindo a relação entre promoção da saúde e práticas médicas convencionais. Estudos contundentes, como o Nurses’ Health Study de 2005, revelam que até 80% das doenças cardiovasculares e 91% dos casos de diabetes mellitus tipo 2 poderiam ser prevenidos por meio da adoção de hábitos saudáveis de estilo de vida. No entanto, é alarmante constatar que menos de 40% dos profissionais médicos oferecem orientações sobre estilo de vida a seus pacientes. Com o crescente aumento de doenças crônicas não transmissíveis, reconhecidas como condições relacionadas ao estilo de vida, como síndrome metabólica, diabetes tipo 2, enfermidades cardiovasculares, obesidade, câncer e outras, a necessidade de intervenções eficazes se torna mais premente. Tais doenças têm suas raízes em hábitos que abrangem o sedentarismo, alimentação inadequada, estresse, ansiedade, depressão, insônia, tabagismo, isolamento social e comportamentos prejudiciais.

A Medicina do Estilo de Vida representa a aplicação da ciência da mudança comportamental de forma efetiva e sustentável. Os profissionais médicos, para além de tradicionais diagnósticos e tratamentos, adotam um papel assemelhado aos famosos “coaches” ou no português, treinadores, oferecendo orientações especializadas baseadas em dados e evidências científicas robustas. Essa abordagem visa capacitar os pacientes, incentivando a adoção de atitudes voltadas ao autocuidado e autogerenciamento da saúde. A finalidade é instilar um estilo de vida saudável com hábitos benéficos que perdurem ao longo de toda a vida.

A mudança de estilo de vida é fundamental, porém, sabemos que mudar hábitos não é tão fácil. Quais as orientações?

A jornada da transformação, embora desafiadora, é inegavelmente crucial para o contínuo desenvolvimento e prosperidade da vida. No contexto dessa evolução, desempenhamos um papel fundamental ao facilitar a transição das pessoas. Enquanto a mudança reside no âmbito situacional, a transição é profundamente enraizada no psicológico. Nesse cenário, a construção da autoeficácia se destaca como um pilar essencial na construção da autoconfiança. Cunhada por Albert Bandura, essa noção encapsula a confiança que um indivíduo deposita em sua habilidade para concluir tarefas e superar obstáculos. Adicionalmente, o poder do exemplo não pode ser subestimado no auxílio e orientação durante a jornada de transformação alheia. Notavelmente, nossas ações em relação aos outros frequentemente ecoam nossos próprios padrões, ampliando a relevância da autorreflexão. Antes de direcionar um estilo de vida saudável, é imperativo que adotemos tal estilo, abrindo espaço para uma harmonia essencial entre pensamentos, ações e palavras.

Texto escrito e revisado por:

Dra. Jacy Maria Alves

Endocrinologia | CRM 27085 | RQE 17834 e RQE 17665

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