Dieta, exercício físico regular e mudanças comportamentais são os pilares principais para a perda de peso e manutenção do peso perdido. Contudo, infelizmente, a perda de peso obtida através de modificações de estilo de vida é muitas vezes limitada e difícil de manter. Apenas 10% das pessoas com obesidade são capazes de atingir e manter 10% do peso perdido por mais de 1 ano.
Quando o paciente não consegue perder peso com mudanças de estilo de vida ou para de perder; quando o paciente precisa perder mais peso para obter mais benefícios; quando o paciente precisa manter o peso perdido.
A resposta para perda de peso é muito individual e quanto mais a pessoa segue a uma dieta saudável, faz exercício físico regularmente e segue as mudanças comportamentais mais rápidos e duradouros são os resultados.
O medicamento mais potente para perda de peso atualmente disponível é a tirzepatida, mas ainda não disponível para comercialização no Brasil, apenas em estudos clínicos. Um estudo de fase 3, duplo-cego, recebendo tirzepatida 5 mg, 10 mg, 15 mg ou placebo, por 72 semanas, com 2.539 participantes, maiores de 18 anos e IMC ≥ 30 kg/m2 ou ≥ 27 kg/m2 com comorbidades, sem diabetes, mostrou média de perda de peso de -15% com a dose de 5 mg, -19,5% com 10 mg e -20,9% com 15 mg vs. -3,1% com placebo (Jastreboff AM et al. New Engl J Med, 2022).
Alguns inibidores seletivos da recaptação de serotonina (fluoxetina e sertralina, por exemplo), usados para tratar depressão, podem proporcionar efeito de perda de peso no curto prazo, embora não tenham indicação formal no tratamento de obesidade A fluoxetina demonstrou efeito transitório de perda de peso, presente principalmente nos seis primeiros meses de uso, após o qual ocorre recuperação do peso perdido, não sendo por isso indicada para tratamento em longo prazo da obesidade.
O medicamento mais potente para perda de peso atualmente disponível é a tirzepatida, mas ainda não disponível para comercialização no Brasil, apenas em estudos clínicos. A semaglutida é a medicação disponível hoje no Brasil com maior potência na perda de peso, mas ainda com aprovação pela ANVISA apenas para o tratamento de diabetes mellitus tipo 2 e aguardando a aprovação formal para o tratamento de obesidade e sobrepeso com comorbidades. Em estudo clínico com 1.961 adultos com IMC acima de 30 kg/m2 ou acima de 27 kg/m2 com comorbidades, sem diabetes, em 68 semanas de tratamento com semaglutida 2,4 mg X placebo + mudança de estilo de vida, a perda de peso média com semaglutida foi de -14,9% (-15,3 kg) X -2,4% (-2,6 kg) placebo, havendo melhora em parâmetros metabólicos, sendo os principais eventos adversos náusea e diarreia, geralmente leve a moderados e transitórios.
O Velija® é indicado para o tratamento de transtorno depressivo maior; dor neuropática periférica diabética, fibromialgia em pacientes com ou sem transtorno depressivo maior (TDM), estados de dor crônica associados à dor lombar crônica; estados de dor crônica associados à dor devido à osteoartrite de joelho (doença articular degenerativa) em pacientes com idade superior a 40 anos e transtorno ansiedade generalizada. O Velija® possui como um de seus efeitos colaterais o emagrecimento, no entanto, é importante ressaltar que a função desse medicamento é tratar os sintomas da depressão ou das doenças mencionadas acima, e não emagrecer, por isso esse produto não deve ser usado como um emagrecedor.
Existem atualmente no Brasil cinco medicamentos aprovados pela ANVISA para o tratamento da obesidade – sibutramina, orlistate, liraglutida (Saxenda®), Contrave® (naltrexona + bupropiona) e bem recentemente a semaglutida, aprovado recentemente pela Anvisa, em 02 de Janeiro de 2022, e que já é comercializado no Brasil para o tratamento de diabetes com o nome de Ozempic®, nas doses de 0,25 mg, 0,5 mg e 1 mg. Em breve será disponibilizada na dose de 2,4 mg, com o nome de Wegovy e com a indicação formal para obesidade e sobrepeso com comborbidades.
O Saxenda é um medicamento da classe dos análagos de GLP-1 e ainda muito usado para o tratamento de obesidade e sobrepeso com comorbidades no Brasil, embora a semaglutida na dose de 2,4 mg demonstrou maior potência na perda de peso -15,8% semaglutida vs. 6,4% liraglutida (Rubino DM et al. JAMA, 2022).
A sibutramina é um medicamento que inibe a recaptação da serotonina e da noradrenalina, possui efeito sobre a regulação da ingestão de alimentos, promove aumento da saciedade e prolongamento da sensação de saciedade e supressão da fome. Nenhuma medicação disponível serve para “substituir” a sibutramina, uma vez que os outros medicamentos disponíveis para a perda de peso promovem a perda de peso por outros mecanismos de ação, mas claro que podem ser escolhidas em vez da sibutramina por apresentarem algumas vantagens em relação a essa, como por exemplo, segurança e até mesmo benefício cardiovascular principalmente em pacientes com fatores de risco ou doença cardiovascular já estabelecida.
Os medicamentos em forma injetável, via subcutânea, que promovem a perda de peso são a liraglutida – Saxenda® (injeção subcutânea diária) e a semaglutida – Ozempic® (injeção subcutânea semanal), mas este último acabou de ser aprovado pela Anvisa para o tratamento de obesidade e será comercializado para esse fim com o outro nome, Wegovy, e em doses maiores, de até 2,4 mg por semana, que foi a dose que demonstrou maior benefício potencial em relação à perda de peso e manutenção de peso perdido.
Essa situação não pode ser o foco de tratamento, uma vez que o tratamento da obesidade deve ser realizado em longo prazo e não com esse objetivo de uma perda de peso num tempo especificado, mas de maneira geral, temos como objetivo perda de no mínimo 5% do peso corporal em 3 meses de acompanhamento e pelo menos 10% do peso corporal em 4-6 meses de tratamento, nos pacientes com obesidade ou sobrepeso com comorbidades, mas a perda pode continuar progressiva, com alguns medicamentos, por quase 1 ano de tratamento, dependente do peso inicial.
Medicamentos aprovados para obesidade não têm tempo máximo de uso, mas sempre sob orientação, prescrição e acompanhamento médico e tanto a redução de dose quanto a interrupção do uso devem se avaliadas e decididas conjuntamente entre médico e paciente, a depender de vários fatores envolvidos.
Estudos mostram que a perda de peso média com o uso do medicamento é de 5 a 8% do peso inicial. Isso é uma média, o que quer dizer que algumas pessoas podem perder bem mais que isso e outras um pouco menos.
A liraglutida (Saxenda®) não pertence à Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) 2020 e, portanto, não faz parte do programa de medicamentos da Assistência Farmacêutica no SUS.
A semaglutida (Ozempic®) atua no sistema nervoso central (SNC), numa área responsável pela saciedade, reduz o esvaziamento do estômago e melhora a sensibilidade à insulina, o que ajuda na perda de peso.
De acordo com o estudo SUSTAIN FORTE, pacientes que usaram 1mg de Ozempic® perderam em média cerca de 5,6 kg após 10 semanas de uso. Lembrando que esse valor é uma média, alguns perderam bem mais peso que isso e outros um pouco menos. Outro estudo publicado pela respeitada revista NEJM em 2021, mostrou que a Ozempic na dose de 2,4 mg pode levar a uma perda média de peso de 14,9% do peso inicial após cerca de 1 ano e meio de estudo. Mais especificamente, cerca de 70% dos participantes atingiram perda de 10% do peso, 50% atingiram perda de pelo menos 15%, e 33% dos participantes perderam 20% ou mais do peso inicial. Para você ter noção da importância deste estudo, a cirurgia bariátrica por técnica sleeve leva à perda de 20 a 30% do peso. Ou seja, o resultado do estudo com uso de Ozempic® foi similar à da cirurgia bariátrica em alguns pacientes.
Apesar da Saxenda e Ozempic fazerem parte do grupo de medicamentos agonistas do receptor de GLP-1 – hormônio produzido pelo intestino que sinaliza ao cérebro que estamos alimentados – ambas possuem diferentes propriedades. Saxenda® é uma medicação aplicada uma vez ao dia; já Ozempic® deve ser aplicado semanalmente. A semaglutida na dose de 2,4 mg mostrou maior potência que o Saxenda® na perda de peso -15,8% semaglutida vs. 6,4% liraglutida (Rubino DM et al. JAMA, 2022). Apesar de estar aprovado pela Anvisa, essa dose de semaglutida de 2,4 mg ainda não está disponível para comercialização no Brasil, apenas a semaglutida na dose de até 1 mg por semana (Ozempic®).
A semaglutida (Ozempic®) é uma medicação prescrita para pacientes com diabetes tipo 2 e recentemente aprovada também para pacientes com obesidade. Em especial, pessoas com diabetes, devem evitar o consumo ou consumir bebidas alcoólicas apenas com moderação, pois ele pode interagir com outros medicamentos antidiabéticos, podendo desencadear hipoglicemia ou hiperglicemia.
Os efeitos adversos mais comuns estão relacionados ao trato gastrointestinal, sendo os mais prevalentes: náusea, constipação, dor abdominal, diarreia, vômito, dispepsia e refluxo gastroesofágico. Entretanto, estes efeitos adversos, quando ocorrem, são tipicamente leves a moderados e transitórios, raramente levando a necessidade de suspender a medicação. Por exemplo, no estudo STEP 1 no qual os pacientes usaram a semaglutida por 68 meses, somente 7% precisaram suspendê-la devido aos efeitos colaterais. Já no grupo placebo, a taxa de descontinuação do tratamento foi de 3,1%. Importante ressaltar que, antes de iniciar qualquer tratamento medicamentoso para o sobrepeso e obesidade, é fundamental passar por avaliação médica, pois somente assim será possível definir a melhor estratégia, individualizando o tratamento para o seu quadro de saúde de modo a obter o melhor resultado e minimizar os possíveis efeitos colaterais. Lembre-se de que uma medicação que foi eficaz para uma pessoa pode estar contraindicada ou não ser a mais efetiva para você!